A LOUCA DA AVENIDA



Estava louca ou era louca, no meio dia e no meio da Avenida Getúlio Vargas, no meio do trânsito mais louco do que ela.

Não queria ajuda para atravessar a rua, não queria consolo para a sua angústia, não queria dinheiro para a sua fome.

Só queria gritar contra a rua, contra a angústia e contra a fome.

Fez do surto tribuna e denunciou a velhice desassistida, o desemprego prolongado e os poderes públicos omissos.  E gritou e xingou e chorou.

No meio da calçada, ouvi o discurso político da louca cidadã que exercia seus últimos e seus únicos direitos. O direito de xingar e o direito de atrapalhar o trânsito.
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Nota da Redação Terra de Lucas:
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