PERCORRENDO AS FILAS DA FEIRA

 

Pela manhã, a fila do ônibus. Estranha fila evangélica, em que os últimos serão os primeiros a empurrar.
Depois a fila única de filas únicas nos bancos. É a fila de quem não tem dinheiro. Quem tem não entra em fila.
A lei garante que gestantes, lactantes, portadores de deficiência e pessoas com criança de colo, não precisam entrar em fila. Então criaram a fila do atendimento preferencial ou a fila dos que têm direito a não entrar em fila.
Nas escolas, as cadeiras em fila e todos os estudantes em fila, especialmente na hora da prova. Aprender a filar, às vezes, é descoberta de vocação política.
As filas de carros no trânsito, as filas de carrinhos nos supermercados, as filas de processos na justiça, as filas de currículos nas empresas, as filas da esperança na lotérica, as filas da diversão no cinema, deveria haver filas para filas.
Nas urnas, os eleitores entram em fila para votar em candidatos que produziram filas de promessas.
Na hora da oração, os fiéis se levantam dos bancos enfileirados para entrar na fila da fé. Às vezes são doentes que trocaram a fila da previdência pela fila da providência.

E eu aqui envio essa crônica para a fila de textos do “Terra de Lucas”.

Marcos Monteiro